Alembro-me tão bem de uma casa, onde a mãe tinha o leme, onde ninguém andava à deriva, amarrado à quilha do barco, à rabiça do arado; o pai tinha a dianteira do carro, assumia o preço de salvar o madeiro do leito para a margem do rio, ia da cam..
na neblina
era pão que se apagou
grito que teimou não arder
sede de lume
que o tempo
(esse imparável comboio
sem estação nem apeadeiro)
há de assomar contra o vazio
Prémio Literário de Poesia
Manuel Maria Barbosa du..
A terra freme
farta de chuva
Uivam douradas dunas
na orgia do vento
ao sul
Imaculados corpos
dormem
sobre descampados
Arde ainda
o dia
Casa de adobo
na cinza
das palavras
Prémio Literário de Poesia
António Cabral, 2019
..
Falarei do corpo, da face
da brevidade da sílaba
soletrada por lábios, na mudez audível
dos versos. Falarei, brandamente
da palavra ira
e da surda viagem ao país ázimo
do pão. Falarei de furtivas bocas
de bagas, de tudo o que é resto
rosto..
O meu filho para mim: pai, tu ontem dizias que hoje era amanhã? Quando ainda era criança, era assim. Depois de rezar o terço, todos sentados no banco de madeira, à volta do borralho. Com a tenaz juntava os gravetos. Com um sopro reavivava o lume. A claridade de uma labare..